De cabeça pra baixo
Acredito que as crianças nascem sabendo tudo. Sabendo que a vida é para ser levada de maneira simples, brincando, aos trancos e barrancos, colecionando cicatrizes que se tornarão a sua história amanhã.
Nascemos com a faca e queijo na mão, e mais ou menos durante os dez primeiros anos usufruímos dessa informação e por isso sabemos que o bom é ser simples: brincadeiras na rua, banhos de chuva, felicidade com um simples sorvete, paraíso de um dia no circo. Com a segunda dezena de anos aprendemos sobre aparências, sobre esconder alguns traços, mentir algumas vezes, não demonstrar fraqueza. E daí para frente só piora. Vamos juntando um monte de tralhas, preconceitos, opiniões e verdades alheias, que nem ao menos deveriam ser importantes, conselhos inúteis que nunca serviram para nada e só ocupam espaço. Chegamos aos 60 pesados de lembranças, histórias e bagunça emocional. Uma vida de excessos e problemas acumulados. As mágoas são de muitos anos, as vezes nem ao menos conseguimos lembrar quais são os seus motivos, mas insistimos em carrega-las coladinhas a nós.
Isso cansa, nos faz empacar. É hora de tentar diferente.
Acredito que é depois disso que entramos em um processo reverso, por isso que os idosos muitas vezes se parecem com crianças. Eles deixam de lado aquilo que durante anos carregaram, entenderam que as mágoas não acrescentam em nada e são pesadas demais para serem carregadas o tempo todo, aprendem a dançar, mesmo que todos estejam olhando, aprenderam a sorrir nos momentos em que gostariam de chorar e também a silenciar nos momentos que costumavam gritar. Aprendem a ter paciência, paciência para andar, para serem ouvidos e compreendidos.
Eu desconfio que o aprendizado, a maturidade, esteja exatamente em livrar-se. Livrar-se de mágoas, de preconceitos, de supostas verdades, de possíveis opiniões, de algumas crendices e de muitas besteiras que vamos juntando ao longo do tempo. Caminhar atrelados à elas é estupidamente difícil.
Eu estou deixando algumas besteiras para trás. É tempo de recomeçar, é tempo de ser feliz! Feliz igual criança. Feliz de uma maneira leve. Desapegue.
Ahhh, que texto vivificante!! Depois dos incômodos todos desse final de domingo, era tudo o que eu precisava ler! Grata pelo sopro nas minhas velas!! :)
ResponderExcluirlindo!! amei : ) que sejamos sempre assim...
ResponderExcluirlindo! amei! que sejamos sempre assim : )
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