De graça...

Por que eu gosto de você? Não entendo a surpresa, não costumo esconder o que eu sinto. Gosto porque na primeira vez que conversamos você não perguntou nada sobre o meu passado, me leu precisamente e me abraçou dizendo que ficaria tudo bem, que a vida tem desses tempos ruins, mas que sempre passa. Eu gosto de graça de algumas pessoas, assim, sem esforço, só no embalo, sabe? Sim, parece e é intenso, quase ninguém aguenta por muito tempo, mas é bom saber que há candidatos. Eu estava triste e tocava aquela música que eu adoro, e você cantou o refrão, e olhou para mim querendo saber se eu havia pescado. Eu sei ler entrelinhas muito bem, não me subestime, embora eu goste, não recomendo.É uma roleta-russa. Eu gosto de delimitar as coisas, definir e classificar, já dando a opção de se afastar logo de início. Você ficou, não teve medo e pareceu até desafiado a tentar mais um pouco, um pouco mais fundo. Tem muita gente que se assusta, eu não os culpo, mas também não me escondo, eu sou assim gostando ou não, e se não gosta, se afasta, é sério. Melhor pra mim, melhor pra ti. Segunda rota de fuga. Você avisou solenemente que não costumava fugir, que era também o que sempre ficava, ou restava. Sim, restava, foi essa a palavra. Senti pena de mim, senti vontade de te abraçar. Entendi que algumas coisas não se encaixam e só machucam porque a gente insiste em achar que vai dar certo. Fechei o olho, você me perguntou se estava tudo bem, respirei fundo pela enésima vez. Estava passando. Eu sou fácil de ler, eu sei. Eu me mostro demais, não me protejo, sim, isso eu também sei. Fale-me alguma coisa nova. Não estou errada, coitado de quem se esconde, de tanta máscara, um dia não vai mais saber quem é de verdade. Eu estou pesquisando e descobrindo, mas acho que é uma busca para a vida toda, não tenho pressa e não perco a curiosidade nunca. Eu gosto de quem se mostra, e tu se mostra e se esconde, e se mostra mais um pouquinho e depois esconde. Já falei do joguete com o meu cérebro, é coisa séria. Assim, eu gosto porque me sinto em casa, porque sei que de alguma maneira tu me traz uma sensação segura, o quentinho de casa no inverno. E é sempre bom estar em casa. Pensei em ti hoje, mas depois te conto, tenho que ir agora, depois a gente se fala. 




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