Uma estrangeira numa terra estranha perdida no meio do mar.



Andava a vagar, de porto em porto, buscando um lar, ou qualquer coisa que pudesse lhe dar a sensação de estar de novo em casa, ou quem sabe ser a própria casa. Vagava feito cachorro de rua, que cheira todos os postes mas não para em nenhum. Sentia que a sua casa poderia ser qualquer um, mas ao se aproximar descobria que estava longe de ser. Sentia carência, mas não se entregava. Sentia saudade, mas não ligava. Sentia amor, mas nunca demonstrava. A aparência enganava, e muitas vezes foi taxada de ter no peito um coração frio e gelado. Até poderia estar, mas nem sempre foi assim. Era mais medo de se machucar de novo do que qualquer outra coisa. E com tanta interpretação errada, parou de argumentar. Aceitou e fim. Talvez não fosse a hora. Talvez não estivesse pronta ainda. Quem sabe se um dia estaria? Não sei. Só sei que quando ela olha pro céu os olhos dela voltam a brilhar como antes. Antes de toda a dor, sabe? Quando ela olha pro céu ela sabe que existe um porto para ela se acomodar, ela sabe também que pode até demorar, mas que um dia ela vai deixar de se sentir uma estrangeira numa terra estranha perdida no meio do mar.

Comentários

  1. "Um dia ela vai deixar de se sentir uma estrangeira numa terra estranha perdida no meio do mar"

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