Retratos de uma vida sem graça
Enquanto você leva outras a lugares onde ela te levava, ela anda por aí, acompanhada da felicidade, que agora criou morada no lado da cama que você dormia. Enquanto você se mata a procura de alguém que lembre qualquer detalhe dela, ela marca outras pessoas com um sorriso lindo com covinhas. Enquanto você usa frases dela tentando alguma conquista barata, ela boceja e faz graça para quem está ali para rir com ela.
A vida, com suas voltas, traçou caminhos diferentes, muitos já foram, mas ninguém foi como ela, e duvido que um dia será. E o fato de não tê-la por perto torna a história muito mais sagrada do que profana. Defeitos, não tinha, se tinha não os lembra. Qualidades, todas, até aquelas que nunca enxergou. Agora que a vista não mais alcança e que as nuvens se dissiparam, o dia ficou claro como nunca. E nas tardes na praia, e nas ondas do mar, não é mais a risada dela que entra pelos teus ouvidos como um suave carinho, nem a mão dela que te pede ajuda depois da onda rolar. Entre tantos timbres, tantas vozes melosas, nenhuma tão doce quanto a dela te faz sonhar.
É meu amigo, a vida é aqui, é agora, não espera, é preciso saber aproveitar, saber usar o momento que se tem sabendo que logo ali, depois da curva, ele pode se acabar. O tempo que antes faltava, que demorava quando longe e apressava quando perto, agora dança na companhia dela, que arranjou outras companhias mais interessantes que a tua. Não tem mais graça, o que antes fazia rir, agora mal é motivo para mover os lábios num sorriso amarelo. Nenhuma frase de livro que leu será entendido por outra, nenhum devaneio perdido numa tarde de domingo olhando a paisagem será tão bem compreendido por outra. Nem mesmo aquele olhar distante, que era só para causar um mistério, hoje tem sentido para qualquer outra.
O tempo passa e tudo muda, se chorar adiantasse, mas não é mais permitido nessa altura do campeonato. Cansado, remando, na direção contrária. Agora é bater ou correr. E ninguém mais para abraçar. E ninguém mais para dividir. E ninguém mais para amar.
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